Alda do Espírito Santo, escritora de São Tomé e Príncipe

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Amílcar Cabral, escritor de Guiné-Bissau

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Pepetela, escritor de Angola

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Mia Couto, escritor de Moçambique

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Alda Lara, escritora de Angola

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Armênio Vieira, escritor de Cabo Verde

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Agostinho Neto, escritor de Angola

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Agostinho Neto, escritor de Angola

Agualusa, escritor de Angola

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Agualusa, escritor de Angola

quinta-feira, 1 de abril de 2010

LITERATURAS AFRICANAS: ALTERIDADE, MANIPULAÇÃO E ESTEREÓTIPOS

"Visíveis, porém estereotipados"

Texto publicado originalmente na Revista Cronópios.

Agradeço pela insubstituível colaboração das professoras Dalva Pontes de Almeida e Raquel Pontes de Almeida.

'Se a Deos chamão por tu,
e a el Rey chamão por vós,
como chamaremos nós,
a três que não fazem hum,
que o povo indiscreto, e nú
falto de experiência, fez
em lugar de hum três
que com toda a Cortezia
tú, nem vós, nem Senhoria
merecem suas mercês'

(António Dias Macedo; In: FERREIRA, Manuel. Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa.
Vol. I. Col. “Biblioteca Breve”, n° 6. Lisboa: ICP/MEIC, 1997. )


INTRODUÇÃO

O aparecimento das literaturas de expressão portuguesa em África é o resultado de um longo processo histórico de quase quinhentos anos de assimilação (desde o século XVI), ocorrida basicamente devido à colonização sofrida por tais países pela metrópole, Portugal. É conveniente lembrarmos que os portugueses atravessaram, em 1415, o Estreito de Gibraltar, sendo os primeiros europeus a se situarem em África (Ceuta, em Marrocos), estabelecendo, no território africano, devido à presença de comerciantes, marinheiros etc., o chamado pidgin, de base portuguesa, “idioma” usado com o fito de se estabelecerem as relações, sobretudo comerciais. Esse “idioma” evolui, no caso dos PALOPs (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, a saber, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe), para o que então se denominava crioulo, especialmente nos países em que o comércio era muito valorizado .

Assim, ali conviviam, com as outras línguas de origem autóctone, o pidgin e o crioulo, num imenso mosaico lingüístico, o que, como veremos, foi fator importante de desunião dos africanos durante muito tempo, pois, por não se compreenderem mutuamente, essas pessoas foram mais facilmente absorvidas pelo processo de tentativa de aniquilação cultural que a metrópole desenvolvia e punha em prática sobre elas.

É fundamental observarmos que as literaturas africanas de expressão portuguesa são, portanto, produto ulterior de uma consciencialização que se esboçou mais fortemente nos anos 40 e 50 do século XX, tendo sua gênese e desenvolvimento nas chamadas "elites lusófonas" (africanos e africanizados que falavam o português).

É preciso, aqui, no entanto, retornar às décadas anteriores, notadamente ao ano 1926, em que António Salazar, primeiro-ministro ditatorial português, estabeleceu uma lei que diferenciava os africanos em “civilizados” e “bárbaros”, sendo que, para serem considerados “civilizados”, teriam de saber falar (e, numa perspectiva idealista, ler e escrever) o português. (Devemos observar que “Africanizado” seria um termo para designar aqueles que, embora pertencentes ao estatuto de colonizadores, tinham, por razões étnicas, sociais, econômicas etc., ideologia e práxis de africanos autóctones, contribuindo com estes na luta pela libertação de todo subjugo imperialista, conforme falaremos.)

Daí, dessa lei metropolitana, é que se inicia, efetivamente, o gérmen do que viria a ser a consciencialização africana, sobretudo, neste momento, no que se refere ao aspecto social do negro em África e diante do mundo. Este foi, pelo que se percebe, um como que “paradoxo”, pois a rigorosa lei, cujo objetivo era aniquilar as culturas dos africanos, ajudou-os grandemente no caminho de sua própria libertação, aumentando-lhes a chance de firmarem-se como povo de expressão cultural vasta, complexa, importante e — autônoma.

Isso ocorreu sobretudo pelo fato de a língua portuguesa, entre outros fatores, ter sido veículo de unificação comunicativa, devido àquela circunstância, acima mencionada, de o mosaico lingüístico não tornar fácil ou sequer viável o diálogo de expressões e idéias entre os africanos, o que veio a ocorrer, repita-se, em grande parte por causa da unidade lingüística promovida pela língua portuguesa, razão a que se acresceram, evidentemente, muitas outras no processo histórico e antropológico posterior em África.

Portanto, acontece que o escritor africano vive, por muito tempo, no meio de duas realidades a que ele não pode ficar alheio: a sociedade colonial européia e a sociedade africana; os seus escritos são, por isso, o resultado dessa tensão existente entre os dois mundos, um escrito “híbrido”, nascente da realidade dialética, ora com traços inquestionáveis de aculturação, ora com traços (no início inexistentes ou imperceptíveis) de ruptura. No fundo, um escrito africano poderia, naquele momento inicial, ser um escrito europeu, pois os temas, a forma, o estilo, a ideologia — tudo era “branco”, “europeu”, “civilizado”.

Com efeito, neste momento, segundo a visão de um Marx, os africanos ainda estavam inteiramente alienados pelo modo de produção colonialista, imbuídos do espírito do colonizador, e de sua ideologia de classe dominante, ainda alheios à consciência e à práxis que esta, no futuro, viria a gerar, como veremos.

Acrescente-se a este quadro alienado e alienante o fato de que o escritor africano, apesar dos esforços dos governos portugueses em sentido contrário, recebe constantemente as influências do exterior, pelo que a sua escrita, na forma e no conteúdo, começará a revelar o contato com movimentos e correntes literárias da Europa e da América, em que se destaca o movimento de negritude. Portanto, se, a princípio, em face do colonizador, o africano buscava a sua “adequação” aos moldes ditados pela metrópole, achando-se, inclusive, feio, bárbaro e impróprio se não procurasse, em si e no exterior, os meios de tornar-se “parecido”, o quanto fosse possível, com o colonizador, foram ocorrendo, pouco a pouco, contatos com povos que já haviam adquirido um grau de consciência do processo destrutivo por trás da aparente “inofensiva” aculturação, e aqueles povos conscientes ou em processo de conscientização foram importantes aos africanos de expressão portuguesa, a fim de que estes, juntamente com outros fatores, que serão brevemente analisados, vissem a realidade por trás da “máscara” que se lhes mostrava.

Dessa forma, houve um processo quando se fala em literaturas africanas de língua portuguesa, um contínuo ponto de mutação ante realidades e ideologias conflitantes.

Na tentativa de periodizar tal processo, Manuel Ferreira oferece um esquema em que apresenta a emergência da literatura africana, sobretudo no que toca à poesia, ligada ao que ele considera como "os momentos/etapas do produtor do texto".

No primeiro momento, o escritor está em estado quase absoluto de alienação, inteiramente absorvido pela cultura colonizadora, reproduzindo seus ideais. Os seus textos poderiam ter sido produzidos em qualquer outra parte do mundo: é o menosprezo e a alienação cultural.

O segundo momento corresponde à fase em que o escritor ganha a percepção da realidade, apontando distinções geográficas, sociais etc. em relação à “metrópole”. O seu discurso revela influência do meio, bem como os primeiros sinais de sentimento nacional: é a dor de ser negro; o negrismo e o indigenismo.

O terceiro momento é aquele em que o escritor adquire a consciência nacional de colonizado. Liberta-se, promovendo um pensamento dialético entre raízes profundas e coibição de sujeição colonial. A prática literária enraíza-se no meio sócio-cultural e geográfico: é a desalienação e o discurso da revolta.

O quarto momento corresponde à fase histórica da independência nacional, quando se dá a reconstituição da individualidade plena do escritor africano: é a fase da produção do texto em liberdade, da criatividade.

Embora Manuel Ferreira não fale dele, há o quinto momento, marcado, ora, pela despreocupação em valorizar-se excessivamente a africanidade: as fragilidades humanas, as vulnerabilidades é que são, agora, enfatizadas.

10 comentários:

  1. Percebe-se que aos poucos a literatura vai desmontando a invisibilidade do negro e sua cultura, e o revela como um ser humano e sujeito de direito. Graças a criação de lei que favorece aos Africanos e os dão o direito de ser inclusos dentro das escolas.
    Ailce Oliveira.

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  2. Esta lei que regulamenta e dá direito o negro a uma escola já devia vigorar ha tempos. Este por ser gente da nossa gente deve ter o seu valor. Sem eles não teríamos história e seríamos um povo sem identidade. Reconhecê-los como irmãos é o mínimo que podemos fazer.
    JOSIANE RIBEIRO XAVIER (Josy - Funorte)

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  3. A Cultura Negra, a expressão, a individualidae de um povo puderam ser expostas, compreendidas e valorizadas por intermédio da Lei que serviu de impulso para que as Litaraturas Africanas reproduzissem a história, repassando-a de maneira que, os leitores vissem quão valorozo é o negro para a Nação.A sua inclusão na Escola é sem sombra de dúvida um direito que ninguém lhe tira, mas a sua permanência depende de estratégias que o farão se sentir como ser humano. Por Flávia.

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  4. A cultura é uma identidade muito importante de um povo. Não existiria a cultura brasileira se não fosse a cultura africana que é muito presente e frequente em nós. A lei imposta só veio a agregar valor a essa cultura que ainda é tão desvalorizada

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  5. O ENFOQUE PRIMORDIAL QUE ESCRITORES AFRICANOS ESTABELECEM, É UMA LITERATURA VOLTADA PARA O CUNHO SOCIOCULTURAL DO NEGRO, E ISSO É IMPORTANTE PARA QUE O LEITOR CONSTRUA SEU PONTO CRÍTICO, OBSERVANDO O SOFRIMENTO DESTE POVO OPRIMIDO, QUE ATÉ HOJE, LUTA PARA O FIM DO RACISMO.

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  6. Quando paramos para refletir sobre vários tipos de discriminação e que a todo momento o ser humano pode receber uma energia negativa ou positiva que impulsiona-o para o bem ou para o mal é que conscientizamos que o homem destrói o próprio homem através da ambição e do egocentrismo. portanto, a luta dos escritores é somente o início de uma grande caminhada que tem como objetivo, recuperar a identidade dos negros.

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  7. A litaratura tem sido uma grande aliada dos negros na luta a favor da inclusao, pois por meio dela o leitor constroi seu ponto crítico e se sensibiliza com a historia desse povo sofrido e tao rodeado por preconcitos infundados.
    Vanessa Stephane

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  8. As literaturas africanas de expressão portuguesa constituem a representação da conscientização, uma vez que representa a libertação e a conquista da autonomia no meio social, mesmo a pesar das ideologias conflitantes que o escritor africano viveu por muito tempo diante da sociedade colonial europeia e a sociedade africana que levou a tensão existente entre dois mundos, um escrito “híbrido”, nascente da realidade dialética, ora com traços inquestionáveis de aculturação, ora com traços da ruptura. Apesar de tudo isso, percebe-se que na atualidade há uma grande valorização social e cultural a cerca da africanidade.

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  9. A literatura tem revelado identidade,reconhecimento e repeito aos negros que ate hoje lutam para o fim do preconceito.

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  10. A Lei que incluiu às grades curriculares o estudo das Literaturas Africanas aos poucos vem conquistando seu espaço, mesmo que de uma forma bem tímida ainda. Fato que comprova isto é o estudo dessas Literaturas nas escolas, o que contribui para a formação da identidade dos nossos educandos sobre esta cultura tão importante, e através da qual várias outras se originaram.A literatura Africana tem sido uma grande aliada do negro na divulgação e valorização da sua cultura, através da constante luta contra o preconceito que ainda assola a nossa sociedade em pleno século XXI.

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